sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Todos os caminhos leva(ria)m a Jerusalém




A "travessia" para Jerusalém Oriental vindo do resto da Cisjordânia é um verdadeiro périplo cotidiano para muitos palestinos. O mesmo acontece em menor grau para estrangeiros que se aventuram a ir da Cisjordânia para Jerusalém Oriental (considerando-as separadamente). Tomando de minha experiência pessoal, lembro-me de quando atravessava a divisão entre Jerusalém oriental e o resto da Cisjordânia, a distância percorrido e o tempo gasto variavam muito dependendo do local de onde vinha. 

Se viesse de Hebron, ao Sul, poderia tomar um taxi ou uma vã especial que passava direto, mas não estava sempre disponível e custava o dobro do preço da outra alternativa, que era tomando uma vã normal para Beit Jala e de lá para Jerusalém. Por essa alternativa, poderia tomar um ônibus especial em Beit Jala que passaria por um outro ponto do posto de controle de Gilo, onde só era necessário descer do ônibus, andar em uma fila, enquanto a polícia de fronteira checava o ônibus, passar por uma porta giratória e voltar para o ônibus. Se escolhesse a opção mais barata, eu poderia tomar uma vã normal em Hebron que pararia na entrada do posto de controle de Gilo. Aí teria de atravessá-lo como qualquer outro palestino, exceto que não os soldados não me trariam como tal.

Caso viesse pelo norte da Cisjordânia para Jerusalém Oriental, pelo posto de controle de Qalandya, teria somente duas opções. Uma seria atravessar o posto como qualquer outro palestino, só sendo diferente o tratamento que receberíamos por parte das forças de segurança. A outra seria através de um ônibus especial (o ônibus nº 21) que me deixaria em uma fila, onde passaria por uma porta giratória, por um detector de metais, por uma máquina de raio-X para bagagem e por uma cabine onde um ficava um soldado atrás de um vidro à prova de bala, que pediria para que eu lhe mostrasse o passaporte. Depois sairia passando por outra porta giratória e tomaria outro ônibus, pois aquele que tomei já teria partido, mas poderia utilizar o mesmo bilhete de passagem. Havia também a possibilidade para estrangeiros, tanto para quem vem do sul, quanto para quem vem do norte, de utilizar outros postos de controle que ficam no sinuoso caminho entre as íngremes colinas da Judéia, a leste de Jerusalém. Porém, isso consumiria muito tempo e dinheiro, sendo necessário por vezes tomar três ônibus diferentes para se chegar a um desses outros postos de controle.

Enquanto isso, os colonos israelenses nos territórios ocupados da Palestina tem livre passagem por vários postos de controle, estradas sem barreiras, cancelas, bloqueios, etc. Um turista que viaje em um carro com placa israelense ou nos ônibus exclusivos para israelenses dentro da Cisjordânia, pode muito bem desfrutar da maior parte dessas facilidades. Porém, caso resolva visitar alguma cidade ou vila palestina, não terá como tomar um desses ônibus, a menos que haja um ponto de ônibus de uma colônia israelense na estrada próxima, que estará certamente muitos metros ou quilometros do centro de qualquer vila ou cidade palestina. A excessão é Hebron, cujo assentamento está encravado no meio da cidade, ao redor do centro histórico e do Santuário dos Patriarcas. Ali há ônibus israelenses que passam pelas ruas exclusivas para colonos e/ou proibidas para palestinos andarem ou dirigirem.

Enfim, nessa encruzilhada em que se encontra a Palestina atualmente, uma viagem a sonhada capital do "futuro Estado da Palestina" diz muito sobre a atual situação e a perspectiva de paz. Visitar Jerusalém é um desejo compartilhado igualmente por palestinos e israelenses. Entranto, a possibilidade de realizar esse desejo é um direito universal apenas para o último. Para os palestinos, é um privilégio ao qual poucos têm acesso... um árduo e desgastante acesso para maioria desses "privilegiados".

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