domingo, 7 de agosto de 2011

O Checkpoint de Tarqumiya

A oeste da cidade palestina de Hebron, próximo a vila de Idhna, encontra-se o Checkpoint de Tarqumiya, alguns quilômetros para dentro da linha verde, a fronteira anterior a junho de 1967 que divide Israel da Cisjordânia.  O nome é devido a uma outra vila próxima ao Checkpoint, mais próximo da qual originalmente esse deveria se localizar. É ao mesmo tempo um Checkpoint para passagem de pessoas (trabalhadores sobretudo) e de mercadorias. Os trabalhadores passam por uma longa série de detectores de metais e portas giratórias, enquanto as mercadorias têm de serem descarregadas dos caminhões palestinos, scaneadas e depois novamente carregadas em caminhões israelenses que as levarão para o porto de Ashdod.

Fila de trabalhadores no Checkpoint de Tarqumiya


O processo de transporte de mercadorias desde a instalação do Checkpoint em 2007 gerou inúmeras dificuldades e prejuízos especialmente aos setores da economia do distrito de Hebron mais dependentes da exportação. Antes, os caminhões palestinos transportavam diretamente a mercadoria para o porto de Ashdod, de onde seriam exportadas para outros lugares do mundo. Agora, além de terem de pagar novamente pela exportação no porto de Ashdod em caminhões israelenses, devem passar por uma série de onerosos (em termos de tempo e dinheiro) procedimentos de descarrega, scaneamento e recarga das mercadorias no meio do caminho. Tudo isso é pago, obviamente, pela parte interessada, ou seja, a empresa palestinos. A somatória de todos esses novos procedimentos levou a um aumento em mais de oito vezes o percentual do custo de transporte sobre o preço das mercadorias exportadas, subindo de 3% para 25%.

Fila de caminhões no Checkpoint de Tarqumiya


A passagem para vários tipos de produtos apresenta sérios problemas, começando pelo próprio processo de descarregar de caminhões palestinos e recarregar em israelenses. Alguns tipos mercadorias frágeis correm o risco de quebrarem ao serem retiradas e recolocadas nos caminhões, como lâminas de vidro. Entre o carregamento e recarregamento das mercadorias há o scaneamento, que cria uma série de dificuldades para alguns tipos de mercadorias que devido ao tamanho ou forma não cabem de modo apropriado no scaner (se é que cabem). Algumas mercadorias delicadas podem estragar ou perderem muito de sua qualidade devido a todos esses procedimentos, como o caso das uvas, que em média perdem entre 15-20% na travessia pelo Checkpoint de Tarqumiya.

Os produtos do agrupamento de assentamentos (ou colônias) Gush Etzion (Bloco Etzion) não passam pelos mesmos procedimentos. As mercadorias dali advindas passam livremente pela linha verde, que divide Israel da Cisjordânia, embora os assentamentos estejam nessa última estabelecidos em violação da lei internacional e em detrimento da população palestina. Empresas de produção de materiais de construção localizadas próximas a esse assentamento (no distrito de Belém) podem transportar suas mercadorias através do território do bloco sem serem checadas. Isso ocorre devido à necessidade de facilitar a entrada de materiais de construção para expansão desses assentamentos. 

A travessia do Checkpoint para seres humanos em geral segue os mesmos padrões de tantos outros Checkpoints na Cisjordânia. As filam de espera começam antes da abertura do Checkpoint (4:00 da manhã), chegando no seu auge a mais de mil pessoas. A maioria dos que atravessam o Checkpoint são trabalhadores do setor de construção, seguido por trabalhadores do setor agrícola. Há ainda algumas pessoas, sobretudo crianças, que atravessam o Checkpoint para visitarem seus familiares presos em cadeias israelenses.

O tempo médio de travessia no horário de pico (entre 4:00 e 7:00 da manhã) é de duas horas, sendo que não há banheiros ou água encanada (existe um único banheiro para os caminhoneiros, mas fica um tanto distante para as pessoas na fila). Também não há acesso a eletricidade de onde se possa estabelecer inúmeros serviços para as pessoas na fila (as luzes vêm somente dos postes de luz). A única barraca de vendas de bebidas e alimentos funciona através de geradores portáteis.

Espaço onde supostamente deveria haver banheiros


O exíguo espaço entre as grades que (que se parecem com verdadeiros currais para animais) traz problemas sobretudo quando estão abarrotadas no horário de pico. Alguns trabalhadores irritados costumam forçar seu caminho para dentro da fila, levando a uma série de empurra-empurras que pressionam as várias pessoas contra as barras de metais, onde existem em alguns locais também arames farpados. Para pessoas envolvidas em trabalhos braçais, os ferimentos que disso podem resultar trazem consigo risco extra de levá-los a perderem seu ganha-pão em Israel.

Os "currais" do Checkpoint


Aproximadamente três mil trabalhadores atravessam diariamente esse Checkpoint, sendo que há mais alguns milhares a mais que o atravessam no início da semana em busca de trabalho ou que tem permissão para permanecer em Israel durante a semana. Para os primeiros, a faina diária é particularmente exaustiva, pois devem acordar muito cedo (3 horas da manhã, ao menos), passar duas horas na fila do Checkpoint passando por portas giratórias, detectores de metais e scaneamento de suas digitais (cuja leitura fica comprometida em trabalhos de construção), além das oito horas de trabalho (idealmente) em Israel. Somam-se a tudo isso as obrigações religiosas do mês do Ramadã, quando o muçulmano praticante deve jejuar do nascer ao pôr do sol. Para a maioria dos trabalhadores, isso significa acordar ainda mais cedo, pois os relógios na Cisjordânia durante o Ramadã recuam uma hora, e trabalhar de estômago vazio durante horas no sol escaldante. Entretanto, a sede, a fome e a exaustão do trabalho braçal não conseguem vencer a resistência (sumud) dos palestinos que retornam cada dia para o Checkpoint de Tarqumiya para repetir sua incessante jornada.

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